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22 de fev. de 2013

Qual é o interesse na rotina?

Ano passado, na época da eleição, escrevia com frequência. Por um lado, foi ótimo. Por outro, atrasou o restante dos meus compromissos. Na reta final, a corda estava no pescoço: tinha prazos, entregas inadiáveis. Depois, fiz um retiro do Facebook (pessoal) e do Blog. Cumpri os prazos e tudo se normalizou. Tirei férias e na volta notei que o ano começou sem prazos tão exíguos. Mas não deu vontade de retomar a rotina cibernética pessoal. Nesse tempo, achei vários assuntos que valiam um texto. Resolvi anotá-los.
Ontem, ao ler as anotações, percebi que a maioria dos assuntos era séria, sisuda. Não sou uma pessoa sisuda. Sou extrovertida, falante (muito), meu riso é fácil e sou (nem sempre, mas com frequência) bem humorada. Não faço o tipo humorista e conto piadas muito mal. Mas não sou sisuda. Então, por que a maioria dos assuntos da minha lista eram assim? Não sei. 
Fui dormir pensando nisso. Antes que o sono chegasse, percebi outra coisa: a lista era do que levaria ao blog. Mas não era a lista do que mais ocupou os meus pensamentos! A cancela do blog sou eu. Claro que aceito sugestões, mas, da vontade de escrever até a interpretação do assunto, a cancela é dirigida por mim.
E o que ocupou meus pensamentos e não passou pela cancela? Casa. Nada literário. Casa, o lugar, o espaço e o que vem no pacote. O que mais pensei: na limpeza diária; na faxina semanal; na dificuldade que é manter o mofo longe aqui em Guarapuava; no quanto gosto da casa limpa e arrumada, mas o quanto detesto fazer o serviço (ainda mais cuidando para o mofo não aparecer); na vontade de comprar a minha casa.
Foi aí que eu perdi o sono. O meu último texto incluiu a faxina de fim de ano. Mas numa relação com o meu aniversário. O assunto casa, no sentido do parágrafo anterior, não estava na lista. 
Penso que, muitas vezes, as pessoas projetam em suas relações uma versão de si que desejam que os outros vejam ou que queriam ser. Acredito que temos hábitos, pensamentos e vontades que às vezes negamos até para nós mesmos. Pode ser que a negação seja uma tentativa de suprimir as coisas que não achamos devidas até que elas inexistam em nós. Ou, talvez, uma tentativa de parecer alguém que, de fato, não somos.
Então, a cancela é uma projeção que faço de mim? Na tentativa de inexistir pensamentos tão enfadonhos como a limpeza diária da casa ou de parecer que esse tipo de pensamento inexiste em mim?
Precisava de um plano urgente para o sono voltar. Pensei que a origem do problema não era a cancela. A limpeza da casa é meu hábito, está nos meus pensamentos. Mas longe das minhas vontades. Se eu pudesse suprimi-la até que inexistisse na minha rotina, assim faria. Não nego sua existência, mas vou suprimi-la ao menos nos meus momentos de lazer - como escrever.
Funcionou. Fui assistir um seriado e não consegui ver o final, já estava dormindo. Acordei e lembrei dos questionamentos. Ri. Gosto de me analisar, mas às vezes consigo cada dramalhão! A resposta era simples: as questões práticas, como limpeza da casa, ocupam o pensamento porque estão no cronograma. O blog é sobre o que me faz refletir, sobre o que persiste nos meus pensamentos. A limpeza da casa só persiste enquanto obrigação, uma necessidade, uma rotina. 
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