Lembrei de mais uma coisa que passei a semana pensando: li um texto no site do jornal El País que insiste em voltar para o meu pensamento. Lá diz que no Brasil nunca se estimulou tanto a arte e se valorizou a cultura como agora. Até aí, pode até ser. Ou pode não ser. No entanto, o que mais questionei desse texto foi a continuação. No quarto parágrafo a autora cita a "bolsa cultura" (não lembro o nome que o governo deu ao projeto) como algo extremamente positivo. Lembro quando ouvi falar desse projeto a primeira vez e pensei "putz, como eles vão selecionar quem vai receber ou não? Quanto será que vão dar? Ai socorro, mais um projeto assistencialista que vai deixar o povo cada vez mais dependente...".
A primeira pergunta: como eles vão selecionar? Para os estudantes? E os que não estudam não devem ter acesso a cultura? Por renda? Não tá muito fácil nem para a classe média pagar os custos da cultura no Brasil... Se for mesmo para os estudantes, por que não é fiscalizado o direito que os estudantes já possuem de pagar "meia"? Aqui no interior pelo menos isso não funciona muito não... Aqui em Guarapuava é no cinema e olhe lá!
A segunda pergunta: 50 reais?! Eles sabem o quanto custa cultura nesse país? Minha amiga Ju contou que estava pensando em ir na peça da Fernanda Montenegro. Ela mora em Niterói e tem esses privilégios. "Quanto tá, Ju?" "90 reais. Mas é lá na Barra da Tijuca, longe pra caramba. Pagando meia mais todo o resto vai dar uns 100 reais para cada". Ju, se você ganhar essa bolsa do governo, fica dois meses sem cultura e boa! Nem pensar em comprar um livro, viu?! Só no terceiro mês! Mas o CD vai ficar mais fácil de comprar! Os músicos nacionais terão o imposto reduzido!
Acredito que a ordem é que está alterada. A cultura é imprescindível, mas é ela que deve ser acessível e não dar mais umas migalhas para ganhar eleição. Enquanto o povo brasileiro festejar com essas migalhas, é difícil colocar as coisas em ordem.
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