Páginas

25 de ago. de 2012

Em SMI, nada interfere na qualidade

Ontem li a notícia no site do jornal O Farol: "São Miguel do Iguaçu obtém nota abaixo do último IDEB realizado". A notícia é de imensa importância. O Ideb é um índice que avalia a qualidade do ensino das escolas. Educação é importante e a sua qualidade também. Não estou aqui avaliando a eficácia do Ideb como índice, nem suas métricas. Mas se ele existe, deve ter alguma utilidade.
Depois de clicar na notícia, chegou a realidade. Já nas primeiras frases do texto aparece a defesa: "A nota baixou em uma pequena porcentagem, o que não interfere na qualidade de ensino da educação de São Miguel do Iguaçu. Em relação ao IDEB de 2009, onde o município atingiu o índice de 5,7, observou-se uma pequena redução no índice de 2011, onde a média foi de 5,3".
Percebo que a palavra "pequena" é usada duas vezes para caracterizar a porcentagem que baixou da nota de São Miguel do Iguaçu. Não houve nem tempo para eu saber a tal da nota e já tem defesa amenizando o resultado. Adjetivar, nesse caso, não é atribuir juízo de valor?
Qual era o fato? A nota de 5,3 de SMI no Ideb. E o comparativo imediato, claro, é com a nota anterior. Mas antes de contar o que é o Ideb, quais as consequências para a educação baixar a nota no índice, antes de qualquer coisa, veio a defesa de que isso não interfere na qualidade da educação.
Como baixar a nota não interfere? De acordo com a notícia que está lá no site, "segundo a secretária de educação Margarida Pansera, esse resultado se deu pelo fato da implantação do ensino fundamental de nove anos". 
Li e entendi os argumentos da Secretária. Não concordo que não interfira na qualidade educacional.  E também questiono: por que em SMI a implantação da nona série afetou a média da nota enquanto a média do Estado do Paraná não foi afetada? E por que a média nacional também não baixou? Até onde sei todas as escolas passaram pela mesma implantação da nona série... Não entendo o motivo para não ter esse tipo de comparação na notícia!

E isso me deixa preocupada: como a informação chega ao público.
A informação é de relevante interesse público? Claro. Para redigir uma notícia, o jornalista deve procurar as partes envolvidas no fato noticiado? Com absoluta certeza.
Saliento a diferença entre escrever uma notícia, que deve ser o mais fidedigna aos fatos possível, e textos de jornalismo opinativo, por exemplo de colunistas, que tem liberdade para expor suas opiniões e posicionamentos. É em gêneros como o jornalismo opinativo que o jornalista tem liberdade para usar  adjetivações.
Não sou uma defensora que levanta bandeiras pela objetividade jornalística. Para ser honesta, não acredito que a absoluta e ideal objetividade jornalística seja possível. Como expõe Nilson Lage no texto Controle da Opinião Pública - Um ensaio sobre a verdade conveniente, "do fato à versão há distância imensa, por onde trafegam interesses e intenções". Entretanto, como ressalta Mário Erbolato, no livro Técnicas de Codificação em Jornalismo, "honestidade e imparcialidade são atributos exigidos do repórter". Explicar o contexto e as consequências (ou possíveis) de um fato não é ser parcial, é cumprir o seu ofício. Mas onde está a imparcialidade de quem só apresenta a versão da Secretária de Educação dizendo que uma nota abaixo não interfere em nada? Que através do próprio texto - sem as aspas - remete juízo de valor sobre o fato? Que não contextualiza o fato?

Há poucos minutos, enquanto já redigia o texto, pensei: texto assim, com tamanha defesa, nem assessoria deve fazer... Para tudo. Estou indo lá no site da prefeitura.

E não é que a matéria era mesmo da assessoria? Para ler e comparar, clique aqui. Vou relembrar o que já escrevi aqui no blog: quando um jornal publica uma matéria de assessoria deve ser identificada a origem do texto. É dever do jornal e direito do leitor saber que, por exemplo, quem escreveu aquele texto é contratado pela prefeitura, que não tem as mesmas obrigação de imparcialidade e nem de investigar se a versão dos fatos é honesta ou não que o jornalista é incumbido. 
O jornalismo não é passatempo, não é ofício para se exercer ao próprio gosto, à própria vontade. A informação é bem público, e é por meio das informações fornecidas pelo jornalismo que a maioria das pessoas conhecem os fatos.
Gosto muito do que está no art. 2o., inciso III do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros: "a liberdade de imprensa, direito e pressuposto do exercício do jornalismo, implica compromisso com a responsabilidade social inerente à profissão" (o grifo é meu). 

Comentários
0 Comentários