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14 de set. de 2012

Dias de luta, dias de glória

Hoje preciso escrever sobre a alegria em ver o triunfo da justiça. Tenho tremendo orgulho da minha família de advogados. Já pude comemorar inúmeras vitórias e não preciso usar falsa modéstia: eles são ótimos profissionais. Todavia, não posso deixar de comentar que houveram derrotas. Sempre existem, é normal. Quanto à imoralidade da Administração Pública de SMI, isso se repetiu algumas vezes. O que, claro, causou efeitos em mim. 
Começando do princípio: desde a minha infância eu acompanho tudo isso. Na minha casa, falamos abertamente sobre tudo. A mediadora oficial sempre foi minha mãe. Sentávamos para o almoço e era hora de ouvir "como foram na escola, meninas?". E lá íamos eu e a Eve contar os ocorridos da manhã. Depois era hora de ouvir "e o trabalho?". Era o momento do pai dividir conosco. Então, chegava a hora da mãe contar os ocorridos da sua manhã.
No final da tarde, tradição lá de casa: um chimarrão e todos contando o que houve no restante do dia. Nessas situações e em qualquer outra que surgisse uma dúvida, uma pergunta, tínhamos total liberdade de perguntar. Assim, sempre soubemos o que se passava um com o outro. A família é minha base, meu esteio. E ela foi construída sobre fortes alicerces: amor, respeito, companheirismo e cumplicidade. 
Alguns podem até pensar que disputas judiciais não são assuntos para uma criança de 10 anos. Para mim foram. E entender esses assuntos construiu muito do que sou hoje. Lá em casa não existia essa censura, tínhamos liberdade de acompanhar a rotina do pai e da mãe. Claro que não é algo muito simples para uma criança entender, mas pacientemente, meus pais foram capazes de explicar o contexto, a origem, os fatos, os efeitos e tudo mais que eu pudesse perguntar.
Quando sofremos os revezes da perseguição política, tinha plena consciência do que estava acontecendo. Sabia de onde vinham e os motivos. Uma lembrança que guardo com carinho é a prova daqueles alicerces da família que citei: meu pai sempre deixou claro que se aquilo tudo prejudicasse a gente de modo que alguma de nós três se sentisse desconfortável em continuar, precisávamos apenas avisá-lo. E tudo se resolveria ali, entre nós quatro. 
Não acredito que em algum momento tenha pensado em pedir para que ele parasse. Eu acreditava - e ainda acredito - nos ideais que nortearam a luta do meu pai. Acredito que a posição da minha mãe e da Eve seja idêntica. Quando afirmo que meu pai tinha a família como instituição de máximo valor é porque presenciei essa valoração. Estivemos ao lado dele. E ele sempre esteve ao nosso lado.
Embora não tenha pensado em reclamar dos maus agouros, pedindo o recuo, admito que por vezes cheguei a questionar a efetividade da Justiça. Os absurdos eram tamanhos que não conseguia entender como não percebia a justiça. Porém, o vale da incerteza logo era superado, recuperando a crença na Justiça.
A vida seguiu. Hoje olho para a minha ainda curta história. Entre a luta, as vitórias e as derrotas me resta o orgulho. E o meu orgulho não se enfraquece nas derrotas, não se origina nas vitórias. Ele é proveniente da luta, dos ideais, dos objetivos. 
Entre as vitórias e as derrotas, lembro de um quadro lá do escritório. Nos 10 Mandamentos do Advogado, de Eduardo Juan Couture, aprendi lições para ser filha e irmã de advogados. Destaco dois:
8) TEM FÉ - Tem fé no Direito, como o melhor instrumento para a convivência humana; na Justiça, como destino natural do Direito; na Paz, como substituto bondoso da Justiça; e, sobretudo, tem fé na Liberdade, sem a qual não há Direito, nem Justiça, nem Paz.

9) ESQUECE - A advocacia é uma luta de paixões. Se em cada batalha fores carregando tua alma de rancor, chegará o dia em que a vida será impossível para ti. Concluído o combate, esquece tão prontamente tua vitória como tua derrota.
Nem sempre é possível levar esses ensinamentos ao pé da letra. Levar a cabo o último que citei, por exemplo, é uma árdua tarefa. Tão difícil quanto esquecer as derrotas é saber a medida de comemorar as vitórias. Quem sabe mais 25 anos convivendo com essa dualidade me garantam a experiência para saber ponderar o tempo da memória.
Hoje, ainda sinto o gosto amargo de algumas derrotas. Mas a coleção do doce sabor de vitórias é maior. Nesse momento escuto as gargalhadas de alegria e satisfação do meu pai por todo o trajeto que ele percorreu para que chegássemos a decisão proferida ontem.
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